INVESTIDORES
De olho no vil metal
Investir em moedas raras pode trazer bons ganhos no longo prazo. Conheça os segredos
Por Luiz Gustavo PACETE
Uma moeda de prata de 2$000, os antigos dois mil-réis, cunhada
em 1909 e esquecida por décadas em uma lata, incentivou o publicitário
paulistano Bernardo Marin, 59 anos, a iniciar uma coleção que lhe rendeu
a compra de um apartamento e um carro. Filatelista desde a
adolescência, Marin tinha 18 anos quando encontrou a moeda, esquecida em
um cômodo da casa por seu pai. O achado o incentivou a vender seus
selos e a começar a comprar moedas. Em 2007, 28 anos depois das
primeiras aquisições, Marin vendeu sua coleção por R$ 110 mil e comprou
um apartamento na praia. O publicitário não se arrisca a calcular quanto
investiu ao longo desse período, mas estima que os rendimentos da
coleção podem ter chegado a 10% ao ano.
Créditos: Artigo da ISTO É Dinheiro Nº edição: 852 |
Metais preciosos |
14.FEV.14 - 20:30
Segundo a Sociedade Numismática Brasileira (SNB),
organização que reúne colecionadores, a valorização média anual desses
metais costuma ser de 12%. Nada mau, quando se avalia que o
melhor investimento, em 2013, foi o dólar comercial, com alta de 14,64%,
seguido pelas Letras Financeiras do Tesouro (LFT), que renderam 8,21%. O
numismata iniciante terá boas oportunidades em 2014. Para incentivar a
prática, o Banco Central (BC) lança anualmente edições de moedas
comemorativas. Em 30 de janeiro, foram colocados à venda dois exemplares
que celebram a Copa do Mundo de 2014, uma em ouro, com valor de face de
R$ 10, vendida por R$ 1.200, e outra de prata, com valor de face de R$
5, vendida por R$ 190.
Peças para colecionar: prensa da Casa da Moeda
(foto de abertura) estampa unidade comemorativa
da Copa (foto acima) - venda com lucro
A primeira tiragem, de 20 mil exemplares, se esgotou em poucas
horas. Lançamentos como esses são boas oportunidades. João Sidney
Figueiredo Filho, diretor de meio circulante do BC, diz que a tiragem
limitada e o fato de as moedas serem consideradas obras de arte aumentam
a possibilidade de valorização. Foi o caso de uma peça que homenageia o
piloto Ayrton Senna, lançada em 1995. Foram vendidos 15 mil exemplares a
um preço de R$ 800, hoje avaliados em mais de R$ 2 mil. É uma boa
aplicação, mesmo para quem não pretende esperar quase três décadas para
comprar um apartamento, como fez Marin, ou encontrar tesouros escondidos
por aí.
É o caso de um exemplar da época do Império com a efígie do
imperador Pedro I, que foi vendida pela casa americana de leilões
Heritage Auctions, em Nova York, no início de janeiro, por US$ 499,3
mil, valor recorde para uma peça brasileira. A unidade leiloada teve
apenas 64 modelos cunhados, sendo que somente 16 estão em circulação. De
acordo com a SNB, ela foi comprada há quatro décadas por um valor
estimado de US$ 15 mil, o que representa uma valorização média de 9% ao
ano em dólares. A descoberta de edições raríssimas é incomum – por isso,
desconfie se você encontrar aquele exemplar único “perdido” na banca de
um vendedor na praça –, mas, com um pouco de sorte e persistência, é
possível encontrar boas peças por preços convidativos. Como começar? É
possível iniciar um investimento em moedas raras com conhecimento
básico.
Bernardo Marin, publicitário e colecionador: "Comprei três
moedas de prata comemorativas da Copa e já revendi duas, com lucro."
O primeiro passo, segundo Gilberto Antenor, presidente da SNB, é
adquirir os catálogos elaborados por colecionadores brasileiros. “Eles
funcionam como um indicador do histórico e dos preços médios das
moedas”, diz Antenor. O valor de uma moeda é determinado pela quantidade
produzida e pelo seu estado físico. Quanto menos exemplares tiverem
sido cunhados e quanto menos tempo elas tiverem sofrido o desgaste da
circulação, mais valiosas elas serão. Os catálogos e as informações
básicas podem ser encontrados nas sociedades numismáticas espalhadas
pelo Brasil, que realizam também os encontros de colecionadores para
comprar e vender moedas. O colecionador paulista Renato Schindler afirma
que o principal benefício de investir em moeda é a possibilidade de
proteger o patrimônio.
“É um ativo internacional cambiável, que pode ser negociado em
outros países cotado em dólar.” Os bancos de investimento especializados
em arte recomendam que o investidor interessado em diversificar sua
carteira com esses itens deve direcionar, no máximo, 10% de seus
recursos nesses ativos. É importante ter em mente que as apostas em
moedas são investimentos de longuíssimo prazo, comparáveis aos das obras
de arte. Além do valor, o investidor deve pensar no prazer de
colecionar. O consultor financeiro Mauro Calil alerta para alguns
riscos. Investir em moedas, diz ele, gera custos adicionais como seguro,
armazenagem e conservação. “Além disso, quem compra uma moeda não deve
achar que vai conseguir vendê-la rapidamente, como se faz com uma ação.
Renato Schindler, colecionador: "Moedas podem ser negociadas
em outros países, por preços em dólar"
Existe até o risco de ele não encontrar comprador”, diz. “Por isso,
não é possível dar uma coleção em garantia de um empréstimo.” O
mercado está aquecido. No lançamento da série da Copa do Mundo, a
valorização das moedas chegou a 150% sobre o preço de venda estipulado
pelo Banco Central. Marin não perdeu tempo: mesmo com a procura
aquecida, conseguiu adquirir três moedas de prata. Duas ele já vendeu
por 30% a mais do que o preço inicial e a outra vai compor sua nova
coleção, de moedas relacionadas à Copa do Mundo. Iniciada em 2008, essa
nova coleção já reúne 800 peças de todo o mundo. A expectativa de Marin é
vendê-la assim que terminar o evento esportivo.
Mesmo os prós ganhando a disputa com os contras, ainda é baixo o
número de colecionadores no Brasil. Segundo os registros do Banco
Central, existem 20 mil pessoas que colecionam moedas no País, as quais
segundo estimativas de mercado, chegam a movimentar até R$ 50 milhões ao
ano. Nos Estados Unidos, o número de colecionadores chega a 700 mil,
com uma movimentação financeira de US$ 1 bilhão. Diferentemente de
outros países, o Brasil carece, inclusive, de regulação. Na Inglaterra,
existe o Stanley Gibbons Rare Index Coin, indicador que mede a cotação
de cerca de 200 moedas raras britânicas. O retorno médio composto dos
últimos dez anos é de 13,3% ao ano.
Link: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/139879_DE+OLHO+NO+VIL+METAL